Uma Inteligência Artificial está se tornando uma ferramenta muito usada por grandes empregadores nos EUA na hora de escolher novos funcionários. Trata-se do HireVue, um software baseado em IA que se propõe a definir a “empregabilidade” de uma pessoa.
Com o HireVue, surpreendentemente o que mais conta não é o currículo ou as aptidões. O sistema usa as câmeras dos computadores e smartphones dos candidatos a emprego para analisar seus movimentos faciais, sua voz, entonações. E ainda a escolha de palavras.
Tudo é feito em uma entrevista, por vídeo, e depois é comparado pela IA em relação aos demais candidatos. Assim é gerado automaticamente um placar de empregabilidade da pessoa. E sem qualquer contato com outro ser humano.

No momento, mais de 100 empresas norte-americanas já utilizam o HireVue. Entre elas, está a rede de hotéis Hilton e a Unilever. Por causa disso, mais de um milhão de pessoas já foram submetidas ao veredicto da Inteligência Artificial.
A aceitação do HireVue por parte das empresas tem crescido tanto que, todavia, já existem nos EUA cursos que ensinam a ter a melhor aparência e o melhor linguajar para agradar à IA do software.
HireVue: sem entrevistador humano
A empresa criadora do HireVue já possui, há alguns anos, um programa de perguntas por vídeo para candidatos a emprego. O empregador fornece as perguntas, e um software registra e compara as respostas, auxiliando e diminuindo o trabalho dos departamentos de RH. O programa fornece o perfil dos candidatos sem a necessidade de um entrevistador humano.
Entretanto, só recentemente a IA de reconhecimento facial foi incorporada, e isso trouxe novas questões, inclusive éticas. Por exemplo, e se um candidato for estrangeiro e não tiver o sotaque “certo” na língua do empregador? E como fica a avaliação de pessoas mais nervosas quando falam?

E as diferentes cores de pele, como influem? Com o HireVue, 29% da nota vêm da aparência do candidato. Ou seja, se o programa achar alguém “feio”, essa pessoa pode ser descartada. O restante da nota (71%) está relacionada a maneira de falar.
Sistema discriminatório?
De acordo com a empresa criadora do HireVue, qualquer sistema de seleção, independentemente de usar IA ou não, pode discriminar e fazer opções de acordo com a aparência. E igualmente pode considerar a maneira de falar do candidato, seu entusiasmo e entonações. Com o software, portanto, não seria muito diferente.
Além disso, Loren Larsen, o pesquisador-chefe da empresa, faz questão de minimizar esses pontos. “Sempre que existirem mil candidatos para uma vaga, 999 serão rejeitados. Tanto faz se a seleção é feita por Inteligência Artificial ou não”, enfatiza.
Mas há quem não concorde com tal pensamento. Meredith Walker, uma das fundadoras do centro de pesquisas IA Now Institute, de Nova York, crítica o HireVue. “Trata-se de uma aplicação perturbadora de IA, pois diferencia um trabalhador produtivo e um não, baseando-se apenas em seus movimentos faciais, tom de voz e maneirismos. Isso é licença para discriminar”, argumenta.
Qual a voz do funcionário perfeito?
Na mesma linha, vários grupos de direitos humanos têm se posicionado contra o HireVue, alegando que o software é injusto e ilusório. Por quê? Afinal, ninguém sabe qual é a voz que deve ter um funcionário perfeito. Além disso, acrescentam que a maior parte dos pesquisadores de IA tem conhecimento limitado da psicologia do pensamento e do comportamento dos trabalhadores.

De acordo com a fabricante do HireVue, pessoas inegavelmente perdem vagas por causa dos sapatos, do jeito que colocam a camisa por dentro das calças, do corte de seus vestidos, etc. E que isso acontece em função dos possíveis preconceitos dos entrevistadores humanos. Portanto, a Inteligência Artificial elimina tudo isso, focando exclusivamente no candidato.
Outras empresas no segmento de RH
Nicolette Vartuli, uma universitária que estuda Matemática e Economia, submeteu-se a um teste com o HireVue e se esforçou para parecer simpática, confiante e eficiente. Mas não foi selecionada para a vaga e não teve como descobrir onde falhou, visto que o programa não oferece qualquer tipo de retorno. Os resultados, em suma, não são entregues aos candidatos.
A empresa garante que a Inteligência Artificial analisa os candidatos “nos mínimos detalhes”. E ainda com imparcialidade absoluta e total precisão, detectando especificidades que um recrutador humano perderia.
Aliás, o HireVue não está sozinho no mercado norte-americano, já que grandes empregadores tendem ao uso de sistemas automatizados de recrutamento e seleção.

A AllyO, da Califórnia, oferece um robô automatizado de recrutamento, que faz entrevistas via mensagens de texto. Outra empresa que se define como “recrutadora digital”, a VCV oferece um programa de IA para uso em entrevistas telefônicas, nas quais a voz e as respostas são assim analisadas por uma espécie de “scanner automático”.
500 mil dados por candidato
O HireVue, entretanto, é o líder do segmento, garantindo que sua curta entrevista de 30 perguntas gere mais de 500 mil dados sobre cada candidato, sem interferência da “inconstância natural dos humanos”. O programa, por ora, roda apenas em língua inglesa. E deve demorar até ser lançado em outro idioma. A empresa não revela seu algoritmo, inclusive já negou um pedido de auditoria externa.
Então, a pergunta que fica é: será esse o futuro dos processos de recrutamento e seleção? Portanto, ainda não há resposta, precisaremos aguardar mais tempo para conferir.
De todo modo, a Inteligência Artificial avança em outras áreas, e temos um artigo mostrando que ela tenta imitar o cérebro humano. Aliás, até animais estão sendo usados em pesquisas sobre IA. Então, boas leituras e até a próxima!