A confusão começou em julho. A Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, decidiu que o Google era desleal com fabricantes de celulares Android. E aplicou à norte-americana de tecnologia multa gigantesca: 4,3 bilhões de euros (R$ 18,1 bilhões). O valor foi depositado em juízo pelo Google.
Diante disso, a marca não ficou passiva e passou a cobrar dos fabricantes os apps do Google com o sistema Android em seus aparelhos. Claro que isso impacta no preço final dos dispositivos e no valor de mercado. Mas, é uma diferença pequena e, por enquanto, só na Europa, não há nada previsto para o Brasil.
Explicamos para você a mudança. Certamente a multa aplicada foi imensa, tanto que o Google resolveu ceder à União Europeia para evitar novas sanções. A gigante da tecnologia também recorreu da decisão.
No entanto, enquanto a nova decisão não sai, os aplicativos do Google, como buscador, Google Maps, Chrome, Maps, GMail e vários outros, passam a ser cobrados dos fabricantes de smarthphones e tablets que optam pelo Android. Os apps eram gratuitos antes da modificação. A decisão do Google aplica-se somente aos 31 países membros da União Europeia. Porém, não é improvável que ela se estenda ao resto do mundo.
Fim ao que era gratuito
Entretanto, qual o motivo de cobrar por algo que antes era grátis? Em princípio, questões de livre concorrência. O fabricante de celulares recebia o Android de graça e com ele todos os apps do Google. Uma beleza, e ótimo também para o usuário. Contudo, havia uma cláusula que atrapalhava a vida dos concorrentes. É que celulares com Android e apps do Google pré-instalados não poderiam ter também pré-instalados apps concorrentes, como o navegador Edge ou o buscador Bing.
De acordo com a Comissão Europeia, o Google não pode mais agir assim. E daí veio a necessidade do Google de cobrar pelos seus apps dos fabricantes de aparelhos. Tecnicamente, a cobrança não é pelos apps, mas pela licença para usá-los. E, certamente, esses custos serão repassados aos compradores de seus produtos.
Cobrança pelas licenças
O Android tem dez anos e se firmou como o sistema operacional líder do mercado. E a multa foi eventualmente o maior golpe que já sofreu. A liderança foi o fator de persuasão do Google para forçar a distribuição do aplicativo de busca e do Chrome nos smartphones de vários fabricantes. Em troca, o Google fornecia a esses fabricantes uma licença para acesso à Play Store, sem custo. De acordo com a Comissão Europeia, a prática negou aos rivais a chance de inovar e competir nos méritos de seus produtos.
Assim, agora surge a cobrança de licenças. O Android em si, quando tratado unicamente como sistema operacional, tem código aberto. Dessa forma, seu custo é sempre zero. Entretanto, apenas se não tiver nenhum app do Google na pré-instalação. Para tornar o Android minimamente prático para o usuário, é indispensável incluir aplicativos e serviços, como navegador e buscador. Contudo essas ferramentas não precisam ser — e comumente não são — gratuitas ou de código aberto. Fica necessário, então, licenciá-las.
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Os modelos originais de negócio
O Google tinha, até a multa recorde, dois modelos básicos de contratação do Android para as empresas fabricantes. No primeiro, o fabricante que quisesse inserir um aplicativo do Google em seu aparelho, como o buscador, poderia fazê-lo se instalasse todos os demais (Chrome, Maps, Agenda, etc.). De tal forma que, em troca, não havia cobrança no licenciamento.
No segundo modelo, o Google permitia instalação de aplicativos concorrentes, mas exigia que os seus ficassem em destaque. Se um fabricante quisesse distribuir o app do Bing, por exemplo, teria que posicionar o buscador do Google na tela inicial do Android. Enfim, essa forma de agir foi considerada concorrência desleal pela Comissão Europeia.
Custos de até R$ 150 na Europa
Agora tudo terá que ser pago pelos fabricantes. Entretanto, surge a pergunta: quanto vai custar para o consumidor final? O custo irá variar de acordo com regiões e países da União Europeia. O Google vai cobrar pelo buscador e pelo Chrome, cedendo os seus demais apps para Android aos fabricantes.
O modelo para Alemanha, Holanda e Noruega já está definido e o preço muda de acordo com a qualidade do aparelho. Então, o que resume essa qualidade? Será a resolução da tela em densidade de pixels. Veja exemplos:
- Smartphones com mais de 500 pixels por polegada (ppi) pagarão US$ 40 (cerca de R$ 150). Esse é o caso de aparelhos top de linha como o Samsung Galaxy S8, que tem 567 ppis.
- Smartphones intermediários de boa qualidade, com resolução entre 400 e 500 ppis, pagarão US$ 20 (ou R$ 75). É o caso do Samsung Galaxy A8 (441 ppis) e aparelhos na sua faixa.
- Todos os celulares com menos de 400 ppis pagarão US$ 10 (R$ 37,50). E essa é a grande maioria, pois inclui os intermediários e os de entrada, como os Samsung Galaxy J2 (241 ppis) ou J5 Prime (294 ppis).
Em alguns outros países os valores deverão ser bem menores, chegando a um mínimo de US$ 2,50 por aparelho, um pouco menos que R$ 10.
As receitas do Android
O interessante é que a Comissão Europeia não determinou que o Google cobrasse pelos seus apps para Android. Ela apenas determinou que a empresa fosse mais flexível nas exigências referentes à distribuição dos seus apps. Contudo, como o buscador e o Chrome são principais fontes de receita da companhia em dispositivos móveis, a cobrança é um meio de compensar as eventuais ausências desses aplicativos.
Eventualmente, outra forma de compensação é a não divisão de receitas. No caso de um fabricante que opte por não instalar o Chrome de fábrica ou não colocá-lo em destaque na tela inicial, ele não receberá repasses provenientes da exibição de anúncios no navegador. E mesmo se depois, o Chrome for instalado pelo usuário.
Poderão surgir novas propostas do Google aos fabricantes, mas sempre com uma cláusula pétrea. É que, de acordo com a decisão da Comissão Europeia, não deverá existir nenhuma restrição à pré-instalação de apps concorrentes, como Bing e Edge.
Para nós, resta esperar para ver se essa nova prática comercial chegará ao Brasil. E, afinal, que impacto terá em nossos bolsos. Aqui no Vivo Tech estamos atentos e manteremos você informado. Entretanto, enquanto ficamos no aguardo, que tal aprender tudo sobre a nova versão do Android? Clique aqui e veja a matéria que fizemos.